domingo, 14 de fevereiro de 2010

Homenagem a meu pai

Caros leitores deste blog:

Achei legal repassar o texto que escrevi para amigos dias atrás também para este espaço virtual. Além de ser uma homenagem póstuma a meu pai, talvez possa ajudar alguém que esteja em situação parecida.


Olás! Voltei a Brasília ontem à noite.


Agradeço imensamente as orações e pensamentos positivos de vocês. Confesso que nunca tive até então em minha vida uma experiência tão forte de fé e oração como essa: a de lidar com a morte de meu pai da maneira como estou conseguindo lidar. Pode parecer até estranho, mas estou aprendendo muito com ela, muito mesmo.

Primeiro, ao receber a notícia que o estado dele de saúde havia piorado muito lá em Mato Grosso do Sul fiquei muito chocada aqui em Brasília. Foi quando eu e minha irmã que estava aqui (as outras duas estavam lá e minha mãe também) corremos pra lá. Desde então comecei a rezar muitíssimo, pedindo para que a vontade de Deus, seja ela qual fosse, se realizasse e eu tivesse forças para amparar minha mãe e minhas irmãs. E, claro, sempre senti com força as orações e pensamentos positivos de todos os amigos.

Conseguimos chegar lá ainda três dias antes de ele falecer. Apesar de estar sedado, íamos lá todo dia vê-lo. Na noite do domingo 31 de janeiro, estávamos na casa de uma tia lá em Dourados quando uma prima me chama à parte e me dá a notícia primeiro. Aí falei com minha mãe e irmãs, foi um momento difícil, mas já sentia a presença de meu pai em espírito nessa hora, acredito que ele próprio também me deu forças. No dia seguinte ele foi enterrado na cidadezinha de Angélica, Mato Grosso do Sul, que era o lugar que ele tinha como a terra dele aqui no Brasil. Ele era estrangeiro e, há muitos anos atrás, se aventurou por aquelas bandas. Foi quando conheceu minha mãe e se casou com ela. Também foi onde eles me "fabricaram" (minha mãe estava grávida de mim quando se mudaram de lá para o Rio de Janeiro). Meu pai se sentia muito acolhido lá em Angélica e os parentes todos de minha mãe viraram tão parentes dele como se fossem ligados pelo próprio sangue. Só mudou de lá porque ficou desempregado e não tinha como arrumar mais emprego por ali, era um lugar muito pequeno. Seguiu então para o Rio de Janeiro, onde tinha e tem parentes do lado peruano/chinês para buscar trabalho.

É como disse Humberto: "foi lá onde tudo começou e foi lá onde tudo "terminou" (note-se aí as aspas no "terminou"). Essa morte de meu pai vejo como algo especial, preparado. Há dez anos ele não tinha ânimo para viajar, sair daqui de Brasília. E, misteriosamente, justamente início deste ano, ele resolveu ir visitar nosso pessoal lá em Angélica e Dourados. Conseguiu se "despedir" de todo mundo que ele mais gostava e também de sua terra adotada querida.

Uma coisa que foi me comovendo ao longo dos dias foi a quantidade de amigos sinceros que meu pai deixou naquele lugar. No dia do velório e enterro, muita gente que costumávamos visitar desde crianças quando íamos passar férias lá ia falar conosco. Até mesmo alguns que eu não conhecia. Até mesmo filhos de alguns amigos dele que já haviam morrido. Fiquei impressionada e orgulhosa de meu pai. Sábado à noite foi a missa de sétimo dia. Também era a missa da tomada de posse do novo padre da cidade. Foi uma missa festiva, como meu pai gostaria mesmo que fosse. Na Igreja, dava para ouvir que as vozes dos cantos saíam de todos os lados, não é que nem aqui que muitas vezes a gente não escuta a comunidade inteira cantar. Depois da missa, vários de nós fomos comer pizza. No dia seguinte, na casa de uma das tias teve churrasco. Muitos ao ler esta mensagem devem estar achando estranho, mas em nossa família é assim. Acho que a gente pratica algo que chamaria de "luto festivo". Todos os dias, às seis da tarde, até o dia da missa de sétimo dia, fazíamos novena para ele na casa da tia Helena. Mas também não deixamos de celebrar o fato de estarmos juntos. Aliás, desconfio que onde meu pai está agora estejam fazendo o mesmo. Uma das coisas que me consola é uma forte sensação de que ele foi recebido com festa lá na outra dimensão e que está bem e em paz.

Venho agradecendo muito a Deus pelo fato de ter nascido no seio de duas famílias enormes e alegres: tanto a de origem italiana, a da minha mãe, como a franco-sino-flipino/peruana de meu pai. Nesses dias estava observando como minha querida italianada tem o jeito de ser parecido com o de minha "peruanada da Amazônia".

Nesses dias todos tenho dado uma olhada nos e-mails. Só não dava para responder pois estava quase sempre ao lado de minha mãe e irmãs e também de primos e tios. Pra vocês terem uma idéia, meus avós maternos tiveram 11 filhos, sendo que desses apenas 2 não tiveram filhos....daí dá para ter uma idéia de quantos primos e filhos de primos temos em Angélica e cidades vizinhas....

Bom, tudo isso só pra dizer que estou bem, apesar da saudade de meu pai. Mas é o que falei ontem pra minha mana caçula...o avião estava começando a pousar em Brasília e seus olhos ficaram cheios de lágrimas enquanto dizia: "Estou com saudades do papai". Falei: "Ju, quando der saudade, pensa que ele, mais que nunca, está do lado da gente em espírito".

É isso aí...gente, devo continuar meio sumida uns tempos, estou ajudando minha mãe a tratar de uns assuntos burocráticos, tenho que terminar de escrever umas matérias e botar um monte de coisas em ordem.

Mais uma vez, obrigada pelas orações e pensamento positivo. Hoje, mais que nunca, sinto que Deus existe e somos veículos dele.

Um abraço e um beijo para cada uma e cada um,

Sil

6 comentários:

Daniel Savio disse...

Que bom que você pense assim, pois eu perdi o meu pai, mas nós estavamos afastando dele no final da vida do mesmo (acabou se separando da minha mãe de forma não muito amigavel e fora outros problemas advindos deste ato).

Fiquei triste quando ele flaceu, mas nada de demonstrado de uma forma desmonstração rasgada.

Fique com Deus, menina Sil.
Um abraço.

Menina de óculos disse...

Deus é lindo mesmo, Sil. Ele sabe o melhor para as nossas vidas.

Fico feliz que você esteja de volta.

Beijoss
:)

Luana disse...

Sil... Sinto muito pelo falecimento do seu pai, mas também penso como vc que ele agora estar em um bom lugar e rezando para proteger vc e sua linda família! Também estou encantada com o jeito em que vcs encaram a morte que para muitos é um monstro e fico muito feliz por vcs compreenderem que é assim que Deus quer que aconteçe. Ao meu ver vc e sua família estão de parabéns pela união e pela alegria de viver, que Deus continue abençoando cada vez mais cada um desses membros e que vcs continuem assim, servindo de exemplo para as outras famílias e que através de vcs que muitas outras consigam viver em paz e feliz. Beijos, querida... Te adoro demais!

Rosana disse...

Sil, passei um tempo sem dobrar a esquina,por isso não fiquei sabendo. Também passei por isso a três anos e como você, dou graças a Deus por ter uma familia tão grande e unida.
Beijo grande no seu coração

James Figueiredo disse...

Pôxa, Silvana, fazia tanto tempo que eu não aprececia pora qui que não sabia do seu pai - Meus mais sinceros sentimentos pra você e pra sua família, e fico feliz em ver que você está encarando a situação com serenidade e tranquilidade!

Beijo enorme, e muita força!
J.

*Ju* disse...

Difícil e inevitável experiência.