sábado, 24 de janeiro de 2009

MOAI ou TOAI? Capítulo 3 (final)

Este pode ter sido o exato momento em que as chaves teriam
saído do bolso de Rui na deliciosa praia de Anakena.
German, Vivian, o Taxista e Jimny, sem bateria...


Por Rui Samarcos Lora

O problema é que essa história não pode acabar bem. Tudo ocorre de maneira muito imprevisível em minha vida. Por exemplo, minutos atrás uma xícara de café caiu na minha roupa, enquanto estava no computador escrevendo essa história, fazer o que? Acontece!

Bom, depois de muito esforço da banda, não conseguimos dar partida no carro, mesmo com a força dos guerreiros de Matato’a. Por incrível que parece, a palavra Matato’a significa guerreiros, no idioma local. Lamentavelmente não fizeram jus ao nome enquanto enfrentavam o poderoso Suzuki Jimny 1999, o terrível monstro enfeitiçado de Rapa Nui.

Recorri a uma força especializada. Em frente ao hotel em que estava hospedado havia o Corpo de Bombeiros. Bom, já que estava ali, 01:00h da manhã, porque não tentar? Afinal, meus amigos estariam as 06:30h me esperando para ver o sol sair, precisava dar um jeito na situação. Ao chegar no Corpo de Bombeiros, o comandante, Senhor Juan Carlos, que fora do prédio estava, me informou que o Corpo de Bombeiros só atende a emergências e que aquela não era uma emergência. Sem dúvida, para eles não era, já para mim...

Não tive outra solução, fui para o hotel tentar convencer o guarda de lá a pegar o carro do dono do hotel para rebocar o meu carro ou dar uma carga. Obviamente que o guarda não se mexeu. Então tive de esperar o horário combinado para informar aos meus amigos sobre o ocorrido. Ficariam chateados, sem dúvida alguma. Dormi as poucas horas que me restavam e fui a pé, às 06:30h, até o local combinado do encontro: a igreja da cidade.

Uma coisa que não sabia era que o povo chileno é muito solidário. Germán e Vivian não pensaram duas vezes quando disse que o carro estava com problemas, nem brigaram comigo porque tinha deixado os faróis acesos. Pararam um taxi na rua e convenceram o motorista a nos ajudar. O taxista, que também era chileno e ali morava, nos colocou dentro do carro e nos levou até o Jimny, cujo os vidros estavam todos embaçados por conta da garoa da madrugada. O taxista amarrou um fio improvisado no seu carro e no Jipe, nos levou para uma ladeira, colocou o Jipe em segunda marcha e deu partida no carro.

A primeira coisa que fiz foi desligar os faróis, assim que ele havia dado partida. Dei uma boa “proprina ” ao taxista e fomos no escuro ver o sol. Conseguimos chegar em um lugar onde se podia ver o amanhecer, mas não em Tongariki, pois não haveria tempo suficiente. Foi muito bom, a companhia de Germán e Vivian é muito agradável, com eles pude conhecer toda a Ilha.

Entretanto, este não é o final da história. Ainda não aconteceu tudo o que tinha que acontecer com Forest por conta da TOAI. O calor era muito, 32°, a Ilha não tem árvores, foram todas desmatadas e os locais onde estão as reflorestadas ficam bem longe de onde estava. Por essa razão tive uma brilhante idéia: “porque não tomarmos um banho na maravilhosa praia de Anakena? As águas são cristalinas, a praia é linda e o calor favorece!”. Excelente idéia. Partimos para lá e lá ficamos, literalmente. Eu tirei “tudo” do bolso e cai na água. Aproveitei o mar por mais ou menos 40 minutos até Germán me pedir a chave do Jipe porque queria tirar alguma coisa, que não me lembro, de lá de dentro. Eu disse: “a chave está na mochila, com a Vivian, pode ir lá, não tem problema”. Ele olha pra mim e diz que a chave não está lá, que já reviraram tudo e que a chave estaria no meu bolso.

Naquele momento via minha vida passar em minha cabeça: meu nascimento, minha primeira queda, o dia em que perdi um dente, quando quase me afoguei em Guarapari-ES, quando fiz xixi nas calças na colação de grau, quando levei um tapa de uma garota porque havia apertado a bunda dela na escola, enfim, era o filme da minha vida ao vivo. Após “o filme” percebi que as chaves do Jipe já estariam perto de Papete, no Tahiti, não haveria possibilidades de encontrá-las mais. Saí desesperado da água e meus amigos, como bons chilenos esperançosos, me encorajaram a procurar. Eu, como sempre, muito “otimista”, disse que nunca mais veríamos tal chave. Outros chilenos que estavam na praia me perguntaram se procurava algo e se dispuseram a me ajudar, fiquei impressionado com a gentileza.

Disse a Germán que o melhor a fazer era voltar ao povoado e pedir a cópia da chave, claro que teria de pagar por isso, mas era melhor do que não conseguir entregar o carro a tempo. Já dá para se ter idéia de que comi as unhas da mão e do pé e fiquei sem o jantar, pois só de taxi gastei dinheiro suficiente para comer uma boa lagosta acompanhado com vinho chileno, nem gosto de lembrar!

Voltei com a cópia da chave na mão. Para minha surpresa me deparei com pessoas que nem conhecia e que me perguntavam se eu tinha resolvido o problema, se tinha conseguido a cópia da chave. Achei estranhíssimo, pois não havia comentado nada com eles. Como se não bastasse, ao avistar a areia da praia, percebi que quase todos estavam procurando a chave, foi uma cena muito curiosa, ver do alto as pessoas procurando um “tesouro” na praia. Eu tive a sensação de ter estragado as férias de muitas pessoas naquele momento. A minha sorte é que eles não sabiam que estavam procurando a chave para um sujeito atípico, o Forest Gump brasileiro, porque senão, não teriam nem se oferecido para isso...

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