domingo, 2 de setembro de 2007

Vimos Carmem, de Bizet, e várias bundas, na Torre de TV


Ontem à noite, eu, Humberto e mais três amigos fomos assistir à montagem de Carmem, de Bizet, ao ar livre, ao lado da Torre de TV. Dizem que é a primeira montagem ao ar livre dessa ópera no Brasil. Chegando lá, como era de se esperar, o gramado estava todo tomado pela multidão. Parte dela sentada, parte em pé. Conseguimos um espacinho na parte sentada para nós cinco nos aboletarmos. Pouco antes de começar o espetáculo, observamos que se travava um embate da facção sentada contra a facção em pé. Volta e meia se ouvia um coral de gritos de "Senta, senta, senta!!!!" de uma para a outra. Nós resolvemos ajudar a engrossar o coro. Porém, poucos indivíduos da segunda facção atendiam aos apelos da primeira. Os que atendiam, geralmente recebiam palmas calorosas.
Ao começar o espetáculo, nossa salvação era que ainda dava para vermos ao longe o telão à direita do palco. Pelo menos isso. Porque de mais perto mesmo, a gente só via um monte de bundas das pessoas que teimavam em ficar de pé e atrapalhar o coreto. Porém, nós, mulheres, estávamos mais ainda em situação de desvantagem visual...além de não podermos ver diretamente o palco, a maioria das bundas da multidão eram femininas ou, então, bundas masculinas "sem recheio", também denominadas popularmente de "bunda-murcha".
Os promotores do evento estão de parabéns. Brasília precisa de mais shows assim. Mas muitos precisam ter noção de coletividade. Havia um rapaz na nossa reta, um pouco mais na frente, que era o que mais atrapalhava nossa visão...ele estava de pé, com a namorada, tomando uma garrafa de vinho. Bebia tanto que, dali a algum tempo, já estava balançando o corpo, de leve, acompanhando as melodias entoadas pela soprano e pelo tenor. Às vezes, quando brotavam as súplicas de "senta, senta" do meio do povo, ele olhava pra trás sorrindo, como se não fosse com ele. Quanto mais tomava vinho, mais balançava. Começamos a torcer para que caísse de vez no chão e ficasse por lá, sentadinho ou deitado, tanto faz, desde que não atrapalhasse mais ninguém. Ele ganhou de nós, sem saber, até um apelido: "Rolha". Finalmente, quase no final da apresentação, o "Rolha" achou uma cadeirinha milagrosa e sua namorada também. Que alívio!!!
Ficamos com dificuldade de entender porque várias pessoas teimavam em ficar de pé. Afinal, aquele não era um show de rock, feito para dançar. E era um espetáculo longo. Para que todos pudessem ter a igual oportunidade de assistir à ópera, era necessário que todos estivessem sentados no chão ou, pelo menos, em banquinhos ou cadeirinhas trazidos de casa. Muita gente, decerto, tinha pudores de ter um contato mais próximo à natureza, sujar a calça, sei lá. Porém, hoje, durante o dia, quando coloquei a minha e a do Humberto pra lavar, reparei que nem estavam tão sujas assim.
Ontem, em certo momento, no intervalo de um ato para o outro, um grupão de pessoas resolve chegar de repente e parar em nossa frente, em pé. Recomeça o estrondoso "senta, senta, senta!". Numa dessas, uma de nossas amigas brilhantemente grita: "Acho que todo mundo aqui tem sabão em pó em casa!" e em seguida diz, também em alto e bom som: "Usem Omo, porque se sujar faz bem", relembrando o famoso slogan dessa marca de sabão. A máquina, hoje, lavou minha calça. E nossa amiga lavou minha alma!

OBS: Vejam matéria sobre o espetáculo em http://www.emtemporeal.com.br/index.asp?area=2&dia=31&mes=08&ano=2007&idnoticia=36162

OBS2: Foto extraída de http://www.paxjulia.org/fotosdetalhe/200506011117.jpg

2 comentários:

Stella Maris Bortolotti disse...

Toda vez que aparece um espetáculo ao ar livre e penso em ir, já fico antecipadamente preocupada com a situação que irei enfrentar. Sei que por mais que eu chegue cedo, sempre haverá alguém chegando depois e parando na maior "cara de pau" na minha frente. Até na igreja já me aconteceu isto. Aqui em São Paulo, as missas do Mosteiro de São Bento são lindas, com cantos gregorianos. Quando vou costumo chegar bem cedo, para pegar um lugar. Porém, umas pessoas chegam tarde e ficam em pé nos corredores, bem na frente de quem está sentado. Pode? Não respeitam nem a missa? Nos shows, então... Quando é para dançar, entendo, é claro! Mas quando não é, esperamos o respeito. Todos têm o direito de ver e apreciar o espetáculo, principalmente quem chega antes.

Ana Paula Pietroluongo - CRP 01/10839 disse...

Sem contar que são nessas horas que podemos observar a criatividade do nosso povo... tudo bem que ela poderia ser melhor utilizada...
Mas enfim... prefiro acreditar que somos artistas sem finalidade...um pouco perdidos ainda...frustrados até!!! hehehehehe...