quinta-feira, 7 de agosto de 2008
O Primeiro Encontro com a Neve - Parte 2
A escalada parcial no Vulcão Villarica, perto de Pucón, foi bem mais sofrida do que eu imaginava...aqui o problema não foi a grande altitude,como foi o caso de nossa subida no Monte Calvário lá na Bolívia, em 2006, onde fizemos a travessura de subir montanha a 4000 metros. No Villarica, chegamos a, no máximo, uns 1300 metros só. Acredito que, pelo menos no meu caso, o que pegou foi a novidade do ambiente, agregada ao peso da roupa e dos calçados. Dia desses li numa reportagem o comentário de uma alpinista brasileira dizendo que as botas duplas de escalada com os grampones pesam mais ou menos uns 4Kg, em cada pé. Junto com o peso da roupa, incluindo o capacete, estava com, portanto, mais de 10kg extras em meu corpo (!!!!).
A neve e o gelo são lindos demais, mas confesso que me ocorreu algo meio estranho, em alguns momentos: uma certa angústia de estar mergulhada num branco sem fim e até mesmo um pouco de sensação de "afogamento". Porém, isso era mais fácil de lidar. Difícil mesmo era trabalhar psicologicamente o cansaço e a dificuldade de respirar. Acho que não tenho um "Distúrbio Obstrutivo Ventilatório Leve", como me diagnosticaram, mas sim uma Asma mesmo... eu procurava não parar minha caminhada já lenta, mas às vezes era inevitável. Tinha de descansar uns segundos para pegar fôlego. Só uns segundos...Humberto me dizia que se parasse por minutos já seria o suficiente para os músculos esfriarem e então seria pior (!!!).
O guia havia nos orientado para carregar o Piolet na mão que estivesse do lado mais alto da montanha, pois nossa caminhada não era em linha reta e esse tal lado sempre se alternava. Com o cansaço que eu estava, minha mente já não conseguia distinguir qual era o "lado mais alto da montanha" e como eu seguia na frente, Humberto sempre me cutucava quando estava segurando o instrumento do lado errado (quase todas as vezes). A importância de segurar o Piolet do lado certo é a seguinte: se você tropeçar, cair ou coisa parecida, deve fazer um movimento rápido para fincar a ponta dessa ferramenta no gelo, ficar seguro e não sair rolando vulcão abaixo. Pensava: "Puxa, se acontecer comigo será que conseguirei lembrar como usar essa coisa no gelo?"
E não era só isso...vinham-me tantas idéias aterrorizantes em minha mente que, depois de passado o episódio, rio sozinha só de lembrar. Imaginava eu tropeçando na neve e causando avalanches, arrastando comigo um monte de pobres inocentes pelo caminho. Ou então, eu caindo e rolando sem parar, ou melhor, parando sim, mas soterrada num montão de gelo e sem poder respirar. Ou ainda eu rolando na neve e esbarrando com toda a força num tronco seco...e assim por diante. Isso sem contar com minhas "viagens mentais", nas quais imaginava aquela pacífica fumacinha que saía de maneira intermitente do Vulcão se transformando de repente em lava.
Mas engraçado mesmo foi em certo ponto da subida, quando, no horizonte, vimos uma imagem belíssima: estávamos acima de algumas nuvens (!!!). Eu olhava para a brancura sem fim em torno de nós, olhava para o horizonte e pensava: "Meu Deus, será que morri e não fiquei sabendo?".
Só não dava para saber se estava no céu ou no inferno.
Neve e nuvem se misturam...
Onde diabos está o lado mais alto da montanha prá apoiar o piolet?!
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